Em um universo de produções audiovisuais sendo feitas com tanta frequência, a quantidade tem se sobreposto à qualidade, e a rapidez com que se vê às produções se mostra mais pertinente do que a profundidade com que as histórias nos atingem. Mesmo num mundo em que nos sobrecarregamos de imagens e informações, vez ou outra uma história se destaca, como um verdadeiro respiro cinematográfico. Assim é ‘A Baleia’ belíssimo e inacreditável filme que estreia essa semana nos cinemas brasileiros, num pós-Carnaval que nada tem a ver com o mote do longa.
Charlie (Brendan Fraser) mora sozinho, isolado do mundo, numa casa à beira de estrada no interior. Ele trabalha como professor de literatura na modalidade on-line, mas sempre deixa sua câmera desligada por uma razão: ele tem obesidade mórbida, e, por saber a reação das pessoas ao vê-lo, ele evita o contato com as pessoas do mundo externo. Sua rotina é quebrada após a inesperada visita do jovem Thomas (Ty Simpkins), empenhado em passar a palavra do Senhor à Charlie. Por causa desse elemento externo, Liz (Hong Chau), amiga e cuidadora de Charlie, se vê obrigada a afastar o rapaz imaginando o dano que suas perguntas poderiam fazer ao emocional de seu amigo, cuja pressão está cada vez mais alta e que se recusa a se tratar no hospital.
Baseada numa peça de teatro homônima, ‘A Baleia’ é um filme que fica em nós muito além do fim de sua projeção. Darren Aronofsky acerta nessa que provavelmente será a obra prima da carreira do diretor. O tom teatral impresso da metade para o fim do longa sinaliza a origem da trama sem perder seu ritmo, cuja entrada se Sadie Sink abrilhanta os potentíssimos diálogos que tem com Brendan Fraser, que poderiam ter lhe rendido uma indicação ao Oscar esse ano.
‘A Baleia’ é um filme capaz de mudar vidas e pensamentos. Mal estreou e já se torna material riquíssimo para estudiosos e estudantes de cinema. Para muito além da gorodofobia, tema principal do filme, ‘A Baleia’ fala com leveza e afeto sobre um homem bom.