Crítica| Babilônia – Filme é uma bela e ousada declaração de amor ao cinema

O cinema é um mundo de sonhos e emoções, onde diversos artistas apresentam ao público sua forma de enxergar a vida. Diante de tantas histórias, a sétima arte também merece ser homenageada em suas próprias produções. Assim, alguns diretores demonstram o amor por essa arte de uma forma que também emociona o público, como é o caso de Damien Chazelle, que encantou a todos com ‘La La Land’ e, agora, brilha com seu novo filme, ‘Babilônia’.

A obra acompanha três personagens buscando seu lugar em Hollywood ao longo da década de 1920. Manny (Diego Calva) é um imigrante mexicano que trabalha como faz-tudo para o executivo da Kinoscope Studios, onde busca uma oportunidade de trabalhar no cinema. Nellie LaRoy (Margot Robbie) é uma jovem aspirante a atriz que é recrutada para seu primeiro filme. E Jack Conrad (Brad Pitt) é um ator veterano no auge de sua carreira. Entre altos e baixos, mesmo alcançando o topo do estrelato, esses personagens devem encarar as mudanças no cinema com a chegada dos filmes falados.

Em meio ao auge e decadência retratados, a produção possui diversas camadas que podem ser analisadas. Por mais que a história foque em personagens considerados superficiais, a profundidade em relação ao cenário representado está constantemente presente no filme. Assim, podemos observar o caos de uma equipe de filmagem no período do cinema mudo, onde fazer barulho não era um problema, então o ambiente era bem agitado, com os diretores orientando o elenco conforme a gravação ocorria. Além de enfatizar como os profissionais da época aproveitavam ao máximo a iluminação do dia.

Outro momento essencial para a produção é a elitização do cinema, apresentada de forma singela, com a mudança de público e estilos de filmes. Com a chegada do cinema sonoro, o espectador passou a exigir mais refinamento das narrativas e até mesmo dos atores. Assim, os atores que viviam em meio a festas e drogas serão esnobados por esse novo público do cinema, fazendo com que estes precisem alterar suas personalidades para se adequarem à nova realidade. O sonho do estrelato e da arte se transforma em decepção ao recusarem mudar suas essências.

Além do brilhantismo visual e da representação de um momento essencial da história do cinema, ‘Babilônia’ também entrega ao público a excelência na atuação de seu elenco. Brad Pitt, Margot Robbie e Diego Calva trazem emoção e complexidade para personagens que, muitas vezes, são apresentados como rasos. Além de Tobey Maguire, que faz uma participação rápida, mas marcante, e até mesmo bizarra, pois o ator está presente no momento mais fantasioso e exagerado da história, beirando o trash.

Apesar do espetáculo oferecido pelos protagonistas, a grande mensagem do filme fica a cargo da colunista de fofoca interpretada por Jean Smart, ao ser confrontada pelo astro interpretado por Brad Pitt. A personagem afirma que os continuam, mas a época de seus artistas passa. Mesmo estes sendo deixados de lado profissionalmente, estão eternizados nas telas do cinema, e, muitos anos após suas mortes, ainda serão lembrados e admirados por pessoas que não viveram em sua época. Definitivamente, foi o momento mais bonito e tocante da produção.

Indicado ao Oscar nas categorias de Trilha Sonora Original, Figurino e Design de Produção, é até surpreendente que ‘Babilônia’ não tenha recebido indicações nas categorias principais da premiação, levando em consideração a preferência que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood possui em relação a obras que homenageiam o cinema. Ao mesmo tempo, a produção traz cenas explícitas e fortes de sexo e drogas, e esse exagero negativo pode ser o motivo de ter sido esnobado por uma conservadora Academia em outras categorias. Mas, é justamente por essa visão imperfeita que torna o filme tão mágico. O filme homenageia uma era do cinema pouco lembrada pelo público atual, de uma forma que pudemos observar o lado daqueles artistas que foram deixados para trás pelas mudanças da época.

Babilônia’ é um filme que traz uma carga dramática bem intensa, mas que vai ser melhor observada no final, já que ao longo da história temos muitas cenas cômicas para quebrar a seriedade e o peso da narrativa. Isso traz leveza à obra que, apesar de longa, faz com que o espectador não sinta o tempo passar. Com isso, o público é levado a  assistir todo o auge e queda de estrelas clássicas, assim como foi com o Império Babilônico. A produção traz uma visão caricata da Hollywood de 1920, onde as emoções são elevadas ao nível máximo. É exagerado, caótico, apoteótico. Uma obra de arte.

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