Crítica | ‘Carvão’ – Filme de Carolina Markowicz Queima a Seiva da Família Tradicional Brasileira

Nos últimos anos os conceitos de “cidadão de bem” e de “família tradicional brasileira” têm sido amplamente debatidos, uma vez que por séculos esses títulos têm servido tão somente para instaurar modelos de regras que só servem para disfarçar, pois, da porta para dentro (ou, muitas vezes, para dentro de outras portas), a verdade é outra. Como metáfora sobre o que vem a ser esses conceitos, o longa ‘Carvão’ estreia nas salas de cinema a partir de hoje e vem para mostrar como queima a seiva dessa dita família tradicional.

Irene (Maeve Jinkings) é casada com Jairo (Rômulo Braga) e os dois são pais de Jean (Jean de Almeida Costa). Os três moram em uma humilde casa de adobe no interior do Nordeste, onde fabricam carvão no quintal e cuidam do avô, acamado há tempos e sem poder se mexer direito, precisando dos cuidados da clínica da família local. Quando o enfermeiro é trocado e Juracy (Aline Marta Maia), a nova enfermeira faz uma proposta tentadora à família, visando ocupar o espaço do idoso na casa e esconder ali um foragido internacional da polícia. Em troca, a família receberia uma ajuda financeira, que poderia melhorar a condição de vida deles. Porém, a presença desse estrangeiro na casa irá levantar segredos familiares e desarmonizar a estrutura dos três.

Com aplaudida estreia no Festival do Rio 2022, ‘Carvão’ é o tipo de filme que, tal qual seu título, vai queimando aos poucos, a fogo baixo, sem tanto atingir a essência, mas queimando ao redor, nas aparências. Desse modo, faz uma analogia ao comportamento social das ditas famílias tradicionais brasileiras, tão preocupadas em seguir as regras que elas mesmas impõem, mesmo que isso lhes custe viver às escondidas. É um filme que faz um retrato do Brasil hipócrita ainda que não se debruce sobre isso: a hipocrisia reside na reflexão do espectador, pois o ‘Carvão’ está lá apenas para acender a chama. Para ver e pensar.

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