Quase cem anos já se passaram, mas os horrores da 1a e da 2a Guerra Mundial continuam reaparecendo, à medida que mais e mais elementos desse período sombrio da história mundial vêm à luz. É dolorido, não é o tipo de história que promove o entretenimento, mas, precisa ser contada, especialmente pelo cinema, cujo impacto semiótico imprime maior profundidade no espectador. Desse universo, chega essa semana às salas de cinema brasileiras o premiado longa alemão ‘A Conferência’.
Em 20 de janeiro de 1942 teve lugar uma importantíssima reunião no comitê principal da SS da Alemanha Nazista. Nela, os principais líderes da cúpula da SS – dentre os quais Adolf Eichmann (Johannes Allmayer), Reinhard Heydrich (Philipp Hochmair), Erich Neumann (Matthias Bundschuh), Dr. Eberhard Schöngarth (Maximilian Brückner), Dr. Gerhard Klopfer (Fabian Busch) e outros – se sentaram por uma tarde para discutir aquilo que eles chamaram de “a questão judaica”, que mais tarde veio a ser conhecido como a dizimação total de 11 milhões de judeus na Europa.
Enquanto filme de ficção, o filme de Matti Geschonneck foca totalmente na supracitada discussão, intitulada de ‘A Conferência’, deixando pouco espaço para a dramaturgia ou para qualquer tipo de criação ficcional. Na prática isso significa quase uma hora e cinquenta de quinze homens sentados em cadeiras discutindo o fim da humanidade dos judeus, referindo-se a eles como coisas, como objetos inanimados – e, por fim, discutindo formas de matá-los a todos, em toda a Europa. Dada a extensão do longa, o incômodo que a frequência desses diálogos transmite ao espectador gera desconforto, pois é tal como se estivéssemos assistindo a essa discussão na prática.
‘A Conferência’ é um filme debate que serve como elemento de pesquisa e discussão, mas cuja temática sensível implica que o espectador esteja disposto a tocar nessa ferida. Vai de cada um.