Ser mulher no mundo dos homens é um desafio diário. As lutas pelos direitos iguais, por respeito, por leis de proteção vêm ganhando espaço em todos os países, pois não é mais tolerável que o mundo seja diagramado apenas para o bem-estar dos homens. Ainda assim, sob a alcunha de cidadão de bem, muitos se protegem com o escudo da família para usar desse artifício como forma de controle sobre os corpos e as vidas das mulheres. Isso acontece na vida real, no tempo contemporâneo, e também na ficção, como no aclamado ‘Não Se Preocupe, Querida’, que estreia essa semana nos cinemas brasileiros.
Jack (Harry Styles) e Alice Chambers (Florence Pugh) são um casal feliz. Casados e sem filhos, os dois vivem em uma casa dos sonhos no condomínio luxuoso criado por Frank (Chris Pine). Todo dia Jack são para trabalhar pontualmente, junto com os outros maridos do bairro, enquanto as esposas ficam em casa cuidando de limpar, passar, cozinhar, e, claro, esperar com um drink na mão os consortes voltarem de seus exaustivos dias de trabalho, com o jantar pronto e disposta a uma noite de amor. Todo dia é igual na rotina de Alice e suas amigas, e elas adoram, alternando apenas para coquetéis à piscina e compras no shopping. Porém, quando Margaret (Kiki Layne) começa a acusar a estrutura de estar prendendo a todos ali, algo começa a rachar na felicidade plástica do grupo, e, aos poucos, Alice passa a perceber que sua realidade não é tão perfeita assim.
‘Não Se Preocupe, Querida’ é uma belíssima produção, que enche os olhos do espectador e preenche a tela com cores em tons contrastantes emoldurados por uma requintada e uma produção de arte que se supera na preparação do set, do figurino e dos objetos em cena. É tudo lindo, perfeito e simetricamente arrumado – o que ajuda a construir a atmosfera de terror crescente. O que talvez escorregue o filme de Olivia Wilde seja justamente a sua personagem, que não convence em nenhuma cena, ou de Harry Styles, que se esforça, mas que não conquista nenhuma empatia do espectador. Ainda que a história seja previsível, nem isso tira o mérito do filme, pois o que importa não é tanto sabermos o final, mas sim o caminho percorrido pelas personagens mulheres em retomarem suas vozes.
‘Não Se Preocupe, Querida’ merece toda a aclamação que vem conquistando mundo afora, e certamente já é uma boa aposta para o Oscar 2023.