Crítica | Abe – Noah Schnapp e Seu Jorge juntos em filme que dá fome!

Abe (Noah Schnapp, de ‘Stranger Things’) é um rapazote de doze anos com uma família desequilibrada. Sua mãe, Rebecca (Dagmara Dominczyk) e a família dela são judeus; o pai, Amir (Arian Moayed), é ateu, mas a família dele é muçulmana. No meio disso tudo, o jovem Abe – cuja família judia chama de Abraão e a família muçulmana chama de Abraham – só tem um sonho: o de se tornar um grande chef de cozinha. Por isso, passa boa parte do seu tempo de férias treinando receitas novas e postando os resultados nas redes sociais. Mas quando sua família mais uma vez começa a brigar sobre os direitos culturais e culinários do falafel (uma comida típica de ambos os territórios), Abe encontra na internet uma saída para seus problemas: o restaurante de Chico (Seu Jorge), um brasileiro que faz sucesso em Nova York ao misturar diferentes culinárias e sabores do mundo.

Baseado na história de Fernando Grostein Andrade, Christopher Vogler, Jacob Kader e Lameece Issaq, o roteiro desses dois últimos parece ter se encaixado em uma outra proposta pré-existente e se condensado no que veio a ser a versão final de ‘Abe’. A parceria árabe-judaica com a direção do brasileiro Fernando Grostein Andrade centrada na cosmopolita Nova York meio que vai para todos os lugares, e transforma o Brasil (através da culinária e do restaurante de Chico) como uma zona neutra, onde o conflito encontra descanso. Quem dera fosse tão fácil assim.

Apesar de extremamente gastronômico (‘Abe’ é desses filmes que realmente dá fome, pois traz um desfile de pratos e sabores para a telona, que vai estimular seu apetite mesmo se você tentar lutar contra), o longa de Fernando Grostein Andrade é um bocado confuso. Ao construir esse Brasil como zona neutra, a gente meio que espera que Abe se debruce sobre a culinária brasileira e que Seu Jorge ganhe espaço na produção para estimular a autoestima desse menino em crise identitária; ao contrário, Abe simplesmente entra no restaurante de Chico sem nem bater na porta ou pedir licença, e sai mexendo nas coisas, comendo e cutucando; aí Chico manda um sai pra lá moleque, mas depois que o menino olha com olhos tristes, o chef simplesmente aceita ensinar o garoto todos os seus segredos culinários assim, a troco de nada, apenas por se tratar de um garoto estadunidense. É meio esquisita essa construção, e automaticamente faz a gente pensar no privilégio que é ser um garoto branco estadunidense na vida né, que pode simplesmente sair entrando nos lugares e ninguém não só não o impede, mas também permite que ele perambule como se fosse dono do local.

Numa salada super mista, ‘Abe’ é um filme com ares de filme família da Sessão da Tarde, mas, de repente, envereda para um drama bem intenso, inesperado. Começa leve, ensolarado, pelos olhos dessa criança que está se tornando adolescente em autodescoberta de suas habilidades e em conflitos externos, para, então, usar uma lupa para focar todos os elementos do longa numa inesperada busca pela identidade – que é quando a produção fica bem mais séria, aumentando a carga dramática rapidamente, o que pode acabar causando estranhamento no espectador que vá assistir a ‘Abe’ pensando em receber um prato e acaba recebendo outro.

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