Crítica| 3% – Última temporada mantém o ritmo e traz um olhar de esperança para o futuro

Em um futuro não muito distante, o mundo é dividido em dois lados. Um continente devastado, pobre e marginalizado, e uma ilha pacífica, moderna e poderosa. Para chegar a esta ilha, é preciso enfrentar uma rigorosa seleção, onde apenas 3% dos participantes conseguem passar. Esse enredo é digno de uma produção hollywoodiana, mas se trata de ‘3%’, a primeira série brasileira da Netflix.

Criada por Pedro Aguilera e dirigida por César Charlone, Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotagá Crema, a série surpreende público e crítica desde o início. Afinal, não é comum a indústria audiovisual brasileira produzir histórias de ficção científica distópicas. Mas, apesar das comparações com produções internacionais desse mesmo estilo, ‘3%’ consegue se diferenciar ao trazer profundidade na história dos personagens, e em suas personalidades complicadas. 

A série narra a história de Michele (Bianca Comparato), Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Vaneza Oliveira), Marco (Rafael Lozano) e Fernando (Michel Gomes) em sua participação no Processo 104, uma rigorosa seleção em que jovens de 20 anos devem participar para terem a chance de saírem do Continente, uma região decadente, e entrarem no Maralto, uma ilha que possui tecnologia avançada e melhores condições de vida. Michele, além de desejar reencontrar seu irmão, é uma infiltrada da Causa, um movimento de resistência que busca derrubar o Maralto e, consequentemente, acabar com a ordem social injusta em que o mundo se encontra.

Ao longo das temporadas seguintes, o público acompanha Michele em sua jornada para descobrir os segredos do Maralto, enquanto os outros personagens se aliam a luta da Causa, tentando fazer o povo enxergar por trás do véu de ilusões da classe dominante. A condição socioeconômica dos personagens que habitam o Continente remete às condições de vida dos moradores de comunidades carentes que, além de marginalizados, vivem sob o controle de milícias. Sonhando com uma condição de vida melhor, o povo aceita o domínio de uma classe rica, que oferece  oportunidades para poucos. Afinal, é preciso manter a ordem social vigente para manter a dominação.

Na última temporada, o público acompanha a jornada de Joana, Rafael, Marco, Elisa e Natália em uma missão diplomática ao Maralto, agora governado por André (Bruno Fagundes), irmão de Michele. Diante da oportunidade única, o grupo cria um plano para destruir de vez a ilha, e Michele permanece no continente para garantir o sucesso da missão, com a ajuda de Xavier (Fernando Rubro). Ao mesmo tempo, um novo Processo está em andamento, diferente de todos que já ocorreram.

Em meio a um arriscado plano para destruir o Maralto, o público acompanha os personagens em uma busca por suas identidades e encarando os fantasmas do passado. Ao mesmo tempo, lutam para não serem seduzidos pela vida na ilha, algo que começa a acontecer de uma forma delicada, através do sonho de conhecer a família ou simplesmente em saber como as histórias contadas na infância terminam. Além disso, a narrativa mostra que nem todos que vivem no Maralto se encaixam naquele tipo de vida. Para, realmente, serem aceitos e bem sucedidos no local, eles devem ser moldados para aquela vida, deixando de lado sua autenticidade, como foi o caso de Marcela (Laila Garin).

Além disso, a série mostra o quanto a ambição humana é destrutiva. A busca pelo poder tem consequências desastrosas, e o desejo de controlar os recursos para a vida levam a humanidade a destruição. Isso é apresentado através do segredo que pode destruir a força do Maralto, que revela que o casal fundador foi o responsável pela destruição do Continente, devido ao egoísmo e medo de perder seu poder.

A série encerra com um despertar da população, que coloca de lado a luta pelo poder em prol de uma sociedade mais justa, onde todos tenham voz. Talvez o único questionamento sobre a conclusão da narrativa seja a rápida mudança na forma de pensar dos personagens. Apenas uma noite faz a população refletir e escolher a melhor opção. Mas, diante do curto tempo que a série tinha para finalizar a história, essa rápida mudança é aceitável. Uma outra temporada seria desnecessária. Assim, ‘3%’ termina com uma mensagem de esperança para os personagens e para os público. Afinal, diante do contexto mundial, com crises políticas, econômicas, sociais e ambientais, todos esperam que o amanhã seja melhor.

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