Crítica| Dark – Série termina de forma extraordinária, mantendo a originalidade narrativa

           O começo é o fim, e o fim é o começo. Essa é a premissa de ‘Dark’, onde passado e futuro se cruzam e influenciam um ao outro. Criada por Baran bo Odar e Jantje Friese, a série alemã mistura drama, suspense e ficção científica, possui uma narrativa não linear e, desde o início, atrai a atenção do público com seu enredo complexo e instigante, envolvendo temas como viagem no tempo, conceitos da física e questões filosóficas. 

           Lançada em 2017, a primeira temporada apresenta a pequena cidade de Winden, na Alemanha, e como o recente desaparecimento de crianças trará à tona os segredos de quatro famílias, de uma usina nuclear e de um recém-chegado na cidade. Nesse cenário, o público acompanha Jonas Kahnwald (Louis Hofmann), um adolescente que tenta superar o suicídio do pai. Em uma noite, Jonas, Bartosz (Paul Lux), Franziska (Gina Alice Stiebitz) e os irmãos Magnus (Moritz Jahn), Martha (Lisa Vicari) e Mikkel (Daan Lennard Liebrenz) vão até as cavernas da cidade e um estranho evento acontece, ocasionando o desaparecimento de Mikkel. A partir disso, Jonas se vê envolvido num paradoxo temporal, caracterizado por um ciclo de 33 anos.

           Na segunda temporada, Jonas se encontra num futuro apocalíptico, tentando voltar para sua época, com o objetivo de evitar o futuro que presenciou em 2053. Ulrich (Winfried Glatzeder) tenta levar Mikkel de volta para 2020, após encontrá-lo em 1987. Claudia (Lisa Kreuzer) ensina Jonas sobre a viagem no tempo, para tentar deter Adam (Dietrich Hollinderbäumer), líder dos “Sic Mundus”, uma irmandade secreta que estuda e manipula o paradoxo temporal. Além disso, é apresentado a origem de outros personagens, retornando aos anos de 1921 e 1954. Diante de tantos cenários e do amadurecimento dos personagens, ao longo dos anos, a temporada termina apresentando uma segunda dimensão.

           Apesar de ser uma narrativa fictícia, esta possui um embasamento científico forte. Além do debate sobre energia nuclear, visto que um dos anos em que a história se passa é 1986, o mesmo do desastre de Chernobyl, e a eterna discussão entre ciência e religião, a série apresenta um profundo estudo sobre temas da física, como buracos de minhoca, partícula de Deus, o Paradoxo de Bootstrap e o Gato de Schrödinger. Algumas datas, na série, são simbólicas, visto que seus acontecimentos influenciam passado, presente e futuro. Nesse caso, não teria data melhor, para a Netflix entregar ao público o encerramento de sua obra prima, do que o dia 27 de junho de 2020, o dia do apocalipse, encerrando, assim, o terceiro ciclo.

           A terceira temporada inicia no exato momento em que termina a segunda, com Jonas sendo salvo pela Martha de um outro mundo. Esse segundo mundo é apresentado, ao longo da temporada, estando preso no mesmo ciclo do primeiro mundo. Assim, Jonas e Martha buscam uma forma de evitar o apocalipse nos dois mundos, enquanto encaram seus eus futuros, Adam e Eva, que possuem seus próprios interesses em ambos os mundos. E Claudia continua estudando a viagem no tempo e uma forma de encerrar o ciclo e salvar sua filha, Regina (Deborah Kaufmann).

           Um dos pontos positivos da produção da série foi a fidelidade dos criadores em relação ao plano original. Assim como os personagens estão presos em um paradoxo que envolve três ciclos, os autores pretendiam fazer a série com apenas três temporadas. E assim foi feito. Optaram por entregar o que já estava planejado, com maestria, a estender um pouco a história em virtude do sucesso, como muitas séries fazem e acabam perdendo a qualidade.

           Diante da complexidade da narrativa da série e os questionamentos de como esta iria terminar, a grande apreensão do público era que seu encerramento seguisse o óbvio, dando sinais de um esgotamento da criatividade. Para a tranquilidade de todos, não foi o que aconteceu. O final de ‘Dark’ é tão complexo e instigante quanto o caminho percorrido para se chegar lá. A terceira temporada mantém o ritmo das anteriores e apresenta a imensa criatividade de seus criadores, que deram ao público um final original e poético. Diante de todas as questões filosóficas e físicas, o que prevaleceu foi o amor.

           A terceira temporada consagra ‘Dark’ como a melhor série da Netflix, e Baran bo Odar e Jantje Friese  como visionários da ficção. Só resta aguardar, ansiosamente, pelos próximos trabalhos dos autores.

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