Seis de abril de 1917. É nesse dia que dois soldados – Will Schofield e Tom Blake – são recrutados pelo capitão para uma missão suicida, porém importantíssima: os dois precisam atravessar o descampado em céu aberto, na exata fronteira com o território inimigo (local onde estavam posicionadas as tropas alemãs) para chegar até onde estava instalada o batalhão principal inglês, que, no dia seguinte, iria cair numa armadilha ao atacar os alemães exatamente onde eles estariam esperando pelos ingleses. Só que Scho e Blake precisam entregar essa mensagem com urgência, pois o ataque está programado para as seis da manhã seguinte, e, por isso, precisam arriscar suas vidas em território inimigo durante o dia.
O que mais chama a atenção em ‘1917’ é o plano-sequência interminável do diretor Sam Mendes (sim, esse é o comentário geral dos críticos e dos espectadores). Nós cronometramos a cena inicial e, pasmem! O primeiro corte no filme é feito após exatos 17 minutos! Coincidência? Pode ser. Mas fato é que essa primeira cena – a do recebimento da missão, passando pelas trincheiras até os dois soldados entrarem no descampado – é filmada ininterruptamente, gerando vertigem pelos corredores labirínticos das bases que protegem os soldados britânicos. É de tirar o fôlego e, ao mesmo tempo, causar tontura. Fica aqui o alerta para quem tem labirintite.
A história do longa é bem simples: dois soldados que precisam entregar uma mensagem em um outro local, numa época em que não existiam celulares, e correndo o risco de serem atacados pelos alemães a qualquer momento. É só isso mesmo. Entretanto, a foooorma como essa história é contada é que faz toda a diferença, e é aí que reside a genialidade do roteiro de Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairms. A câmera acompanha a caminhada desses soldados colocando o espectador como um terceiro participante desse pequeno grupo, e, portanto, sentimos a angústia e o medo de nos sentirmos ali, naquela situação. Também nessa jornada, a câmera faz uso do close up nos horrores da guerra, fazendo pequenas pausas na trajetória para evidenciar elementos que compõem esse cenário, mas que são esquecidos na ficção, como um cavalo arrebentado às moscas ou uma cidade em ruínas surgindo de repente no horizonte.
George MacKay e Dean-Charles Chapman entregam atuações de excelência, seja na capacidade de decorar muitas falas (algumas delas bem complicadinhas), seja na suavidade com que transpuseram sentimentos muito reais a seus personagens. Ah, e o longa ainda conta com a participação especial de Colin Firth e Benedict Cumberbatch, ambos irreconhecíveis quando surgem na telona.
‘1917’ não é um filme emocionante, mas é um filmão tecnicamente impecável e que já se torna uma grande referência para os estudos de cinema. Com uma trama básica, ele joga luz sobre quantas vidas se perdem nas guerras inúteis e o quanto o heroísmo de indivíduos anônimos contribuem para melhorar ou salvar a vida de homens que, no final das contas, só querem voltar para suas casas vivos, e não simbolizados em um círculo de latão enrolado em um pedaço de fita.
‘1917’ é um exemplo de cinema arte que se tornará referência pelos próximos anos. E que faz toda a diferença ser assistido nos cinemas, em tela grande.