A primeira adaptação em filme do brinquedo de sucesso dos anos 1970 e 80, Playmobil, finalmente chega aos cinemas, em formato animado, voltado claramente para o público pequeno, mas com grandes chances de agradar também às crianças maiorzinhas que já pagam boletos e respondem pelos seus próprios atos.
Na trama – que mistura cenas de live action com animação computadorizada – conhecemos Charlie e Marla, dois irmãos que discutem sobre o apego do menino aos brinquedos infantis dentre maquetes com cenários de Playmobil. No meio da briga, uma luz mágica do farol acaba transportando-os ao mundo mágico de Playmobil, transformando-os em um guerreiro viking com inigualável força e uma jovem toda coberta de roupas, respectivamente. Por conta de um descuido, Charlie acaba sendo levado por piratas malvados e, por isso, Marla se vê enfrentando uma inesperada jornada para resgatar o irmão.
Recheado de muita aventura e diversão, o filme agrada no seu total, especialmente o primeiro ato, no qual há a participação dos vikings. Além disso, ‘Playmobil’ tem três músicas temas bem legais, sendo uma delas, a do Imperador, bastante semelhante à de ‘O Estranho Mundo de Jack’.
Embora seja um filme bem divertido, fica evidente (para quem está enxergando essas coisas nas produções atuais) que ‘Playmobil’ é um filme focado no universo masculino, direcionado a ele, colocando as mulheres como coadjuvantes. Vejam: quem vai na grande aventura divertida é Charlie, e Marla tem que ir numa jornada que não estava em seus planos, não curtindo nem um pouco boa parte do trajeto; quase todas as personagens femininas do longa são retratadas como mal-humoradas, chatas e estraga-prazeres (Marla, a cientista chefe do laboratório e a chefona do submundo ilegal); as personagens femininas funcionam apenas como auxiliares aos grandes aventureiros homens da história (Marla, que vai buscar o irmão desbravador de novos mundos; a Caçadora de Recompensas, que derruba os dois guardas, mas atende ao pedido do pirata e pega as chaves da cela e as entrega para ele, como se ela mesma não pudesse abrir a porta; etc); os personagens masculinos são retratados com elogios, em oposição às mulheres, que são chatas (Charlie, como viking, tem super-força e se torna O Destruidor; o personagem estilo 007, Rex Detcher, que toda vez que aparece toca uma musiquinha falando o quanto ele é lindo, etc).
Todos esses exemplos apontam o quanto essas construções estão internalizada na forma como contamos e aceitamos as histórias, porém hoje, felizmente enxergamos esses mecanismos, e, portanto, eles devem ser apontados para que haja uma reflexão, mesmo com os pequenos.
No geral, ‘Playmobil – O Filme’ é um desenho bem legal para todos os públicos, mas cujos pontos problemáticos devem ser debatidos com os pequenos, pois é assim que vamos desconstruindo a normatividade masculina e vamos construindo uma geração melhor de seres humanos.