Toda vez que há uma festa de comemoração ou uma data especial, famílias ao redor do mundo costumam se encontrar para festejar. Entretanto, nem sempre esses momentos são de harmonia e confraternização, especialmente se a família tiver diversos assuntos mal resolvidos que, ao longo do ano – ou dos anos –, vêm sendo jogados para debaixo do tapete. Um dia todos esses segredos, amarguras e assuntos inacabados acabam vindo à tona.
Esse é o núcleo do longa francês ‘Feliz Aniversário’, que estreia hoje nos cinemas. Com a desculpa de se reunir para a festa de 70 anos da matriarca da família, Andréa (Catherine Deneuve, que realmente tem um brilho a mais ao seu redor toda vez que entra em cena), seus três filhos decidem aparecer na casa de campo da família no interior da França. O que era para ser um final de semana feliz, rapidamente se transforma numa sequência de episódios estressantes, de brigas e lavagem de roupa suja – algo que, a bem da verdade, de fato acontece nesses encontros.
Embora haja momentos de descontração que provocam o riso, o filme possui um ar de comédia histérica (histórias que se baseiam na elevação do nível de tensão, causando ao mesmo tempo nervosismo e riso no espectador até seu grand finale). Entretanto, o roteiro de Cédric Khan (que também assina a direção e atua no longa no papel de Vincent, o filho bem-sucedido da família, que não quer se envolver com os membros fracassados do núcleo familiar), apesar de bem emendado, conduz a história na direção de um perigoso clichê que anda sendo combatido, e talvez não agrade aos espectadores.
Neste cenário, quem se destaca mesmo é a atriz Emmanuelle Bercot, que interpreta Claire, a filha perdida na história, porém a em quem as pessoas precisam se segurar. A construção que Emmanuelle faz de sua personagem é crescente, constante e explosiva, e em pouco mais de 1h40 de filme o espectador atravessa uma gama de sentimentos conflitantes com relação a ela.
Entre altos e baixos, o personagem Romain (Vincent Macaigne, bem no papel do filho nervoso, mimado e egocêntrico) em determinado momento declara “Um filme é feito para fazer registro, para guardar o arquivo, a memória. E meus filmes são vistos por quem se interessa”. No final das contas, ‘Festa de Família’ é isso mesmo: um filme para quem se interessa – em conflitos familiares próximos da realidade, em produções francesas, em diálogos e situações que geram reconhecimento e desconforto. Ou seja, é mesmo para quem se interessa.