Essa frase tem que ser usada com cautela, afinal, não é todo filme bom que se torna um clássico. Porém, no caso de ‘O Farol’, tudo nele o desloca para a restrita categoria de um clássico da sétima arte.
Na trama, passada em 1890, dois sujeitos – Thomas Wake (Willem Dafoe, em um dos seus melhores papéis da sua carreira) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson, finalmente conseguindo se firmar como um dos melhores atores de sua geração) – são incumbidos de cuidar de um farol isolado da costa durante duas semanas. Durante esse tempo, os dois ocupam os dias com os afazeres da profissão e com conversas aleatórias. Porém, o barco que deveria buscá-los não aparece, e o tempo entre eles começa a passar muito mais devagar, sendo ocupados por diálogos mais tensos e situações muito mais íntimas.
Não é nenhuma coincidência que a sinopse de ‘O Farol’ se assemelhe à ‘Esperando Godot’, peça teatral do dramaturgo norte-americano Samuel Beckett: o diretor Robert Eggers não esconde suas influências do teatro, inclusive comenta também (em vídeo EXCLUSIVO ao Cabine Secreta, abaixo) que também o expressionismo alemão e Shakespeare o inspiraram, ao ponto de nos ensaios os diálogos (que são enormes) terem sido praticados para alcançar o ritmo e a pronúncia do inglês medieval shakespeariano. Mérito do diretor e de seu irmão, Max Eggers, com quem assina o roteiro.
Filmado em 35mm e todo e preto e branco, o longa de Robert Eggers (apenas seu segundo longa-metragem, olho nele, gente!) é brilhantemente dirigido, construindo a tensão em todas as oportunidades que possui. Além das atuações angustiantes da dupla de atores, chama a atenção a fotografia imersiva que ajuda a compor o ambiente claustrofóbico e de perigo constante do farol isolado, e o som. Nossa! O som desse filme é simplesmente incrível, e o estridente barulho do ‘Farol’ fica ecoando na cabeça do espectador por muito mais tempo do que apenas os quase cento e vinte minutos de duração.
‘O Farol’ é um filmaço, que merece ser visto em tela grande. É desses filmes que nos faz lembrar que o cinema é uma arte provocativa, sensorial e que faz o ser humano pensar suas próprias individualidades. E certamente arrecadará algumas indicações nessa temporada de premiações. Imperdível!