Crítica | Midsommar: PERTURBADOR Filme de Terror à Luz do Dia

            Depois do sucesso estrondoso de ‘Hereditário’, o diretor norte-americano Ari Aster volta a inovar no ascendente nicho dos filmes de terror com o perturbador ‘Midsommar: O Mal Não Espera a Noite’ – cuja função do subtítulo é explicar o título em sueco, que significa algo como “o solstício de verão” e busca evidenciar o fato de que a história se passa em um país nórdico cuja benção do anoitecer é limitada, e que talvez, apenas talvez, o fato de quase nunca escurecer naquela região deixe as pessoas meio perturbadas. Bom, mas na verdade poucas pessoas param para ficar analisando o título, né?

            Cientes desse evento, o casal norte-americano Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor, que é a caaara do Chris Pratt) decidem embarcar nessa viagem em busca do solstício aliviador após o longo e escuro inverno escandinavo. Para tal, convidam os amigos Mark (Will Poulter, que fez sucesso recentemente com o episódio ‘Bandersnatch’, da Dona Netflix) e Josh (William Jackson), um obcecado estudante de pós-graduação que busca transformar esse evento em sua tese.

            Após uma longa viagem, o grupo chega ao que parece ser uma rave espiritualista isolada dos centros urbanos e gerenciada por um grupo bonito, porém esquisito, que parece viver numa espécie de seita – mas cujos segredos não são possíveis identificar de imediato. Aos poucos, a personalidade de cada um do grupo é potencializada por conta da convivência, e, paralelamente, a essência obscura da seita também vai se mostrando, sempre atrás de um sorriso e de uma fala doce.

            O grande trunfo de Ari Aster – que também escreveu o roteiro – é, claramente, conseguir realizar um filme de terror que se passe à luz do dia (algo bem difícil de ser realizado, é verdade, posto que o gênero se fez com base no mistério que a escuridão oculta). Essa é o trunfo mais evidente, porém, o mérito de ‘Midsommar’ é elaborar um filme de suspense psicológico baseado nos arquétipos junguianos e trabalhar as pulsões freudianas para justificar as atitudes dos personagens. Resumidamente: um prato cheio para os psicólogos cinéfilos.

            Entremeando o suspense psicológico – que vai sendo construído sem pressa, sem gerar uma tensão, mas sim expectativa em quem vê o filme, afinal, o medo não é o elemento mais evidente na proposta de Ari Aster –, cenas de terror bizarras e perturbadoras tomam o espaço da tela, o que pode causar repulsa ao espectador. Por mais evidente que o que vai acontecer seja, é impossível não continuar olhando, e, tão logo a cena ocorra, bate um arrependimento de ter permanecido com os olhos abertos. Para quem tem estômago fraco, fica o alerta.

            Ari Aster faz uso de todos os elementos que possam compor um filme de terror, e intensifica as sensações ao optar por suprimir os sons nos momentos de angústia da protagonista Dani (o que aumenta ainda mais a ansiedade do espectador, que imerge naquela respiração acelerada abafada e crescente) ou em apenas abafar o som ambiente para potencializar o efeito do narcótico tomado por ela. Além disso, também inverte os elementos clássicos do gênero: realiza um filme de terror em ambiente aberto e sob a luz do sol, mostrando que uma boa história assustadora não precisa seguir cartilha.

            ‘Midsommar’ é um filme perturbador, que fica em você muito tempo depois de tê-lo assistido. Apesar de tudo, recomenda-se vê-lo a luz do dia.

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