Anselmo (Leandro Hassum) é o estereótipo do funcionário público de departamento: mal-humorado, cheio de ironias, insatisfeito com o emprego e de má vontade para fazer o que tem que fazer. O resultado é um profissional que mais enrola do que trabalha, critica todo mundo e, no final das contas, acaba sofrendo um acidente, só que quando ele acorda, descobre que morreu. Para sair do limbo em que se encontra, Anselmo aceita o desafio sugerido por um misterioso personagem (interpretado pelo carismático Tadeu Mello): para garantir sua vaga no céu, Anselmo terá que juntar um casal que um dia já fora apaixonado um pelo outro.
O problema é justamente o casal, tanto na ficção quanto na feitura desta. Elizângela (Flávia Alessandra) é uma empresária em ascensão no ramo de comida vegana em food truck, que dialoga com um conceito de estilo de vida mais limpo e natural. Por outro lado, temos Paulo Sérgio (Bruno Garcia, sempre bem vestindo preto), claramente um homem bem-sucedido no business, seja ele qual for. Os dois já tinham sido noivos anteriormente, mas Paulo Sérgio abandonara Elizângela no altar, e, mesmo magoada, ela ainda o ama, e nunca mais conseguiu se relacionar profundamente com outro homem.
Embora o mote não seja exatamente novo (‘Todo Poderoso’ é claramente uma referência para a argumentação do longa) e o lance da união entre os desafetos já tenha sido explorado em diversos formatos, o que não funciona mesmo é o casal, que não transparece nenhuma química juntos. Soma-se a isso à insistência das comédias de Hassum em calcar piadas (um pouco menos dessa vez, é verdade) na escatologia, fazendo menções desnecessárias a cocô, bunda, cagar, etc. Dá pra rir sem ter que ser infantil.
Por outro lado – e aqui está a parte positiva – o longa se renova, ao trazer cenas como as que estamos acostumados a assistir nos canais de humor no youtube (a cena da conferências dos deuses/entidades é típica ‘Porta dos Fundos’) e traz uma gama de atores de comédia de diversas gerações – Dani Calabresa, Hélio De La Peña, Ludimilla, etc –, o que se torna o ponto alto do longa. A comparar com o último trabalho de Hassum, ‘Chorar de Rir’, em que ele também reúne os novos nomes da comédia brasileira, parece que o ator está buscando usar seu nome e prestígio para ajudar a jogar luz na carreira dos outros atores do gênero, e isso é realmente muito bacana.
Para os fãs do icônico Jim Carrey, ‘O Amor Dá Trabalho’ é uma ótima homenagem aos filmes do ator, com inspirações evidentes que comprovam que Leandro Hassum bebe na fonte de Carrey e Jerry Lewis, ao mesmo tempo em que busca se reinventar na carreira, focando seus trabalhos agora no gênero drama cômico. A inovação deste reside em, apesar dos inúmeros clichês (alguns bastante desnecessários), há uma reviravolta na trama que é bastante bem-vinda. Talvez a reinvenção proposta pelo longa não seja apenas da carreira de Hassum, mas também de certas imposições aos finais do filme que nem sempre condizem com o que o espectador quer ver. Em ‘O Amor Dá Trabalho’ a reviravolta final é de acordo com a realidade, e só isso já é suficiente para fazer valer esse filme.