No formato da educação ocidental, o meio de acesso a um curso de ensino superior é feito a partir de uma bateria de provas que comprovam o conhecimento do aluno e, a partir do grau obtido, o candidato consegue concorrer às vagas disponíveis dos cursos. Dentre as opções, o curso de Medicina é sabido por ser um dos mais concorridos do mundo, independentemente da faculdade.
É nesse turbilhão que encontramos Benjamin (William Lebghil), um jovem que sofre muita pressão de sua família para entrar na faculdade de Medicina, mas que não está tão certo assim de sua escolha. Com medo de decepcionar o pai – um cirurgião renomado – Benjamin tenta estudar, mas é preguiçoso. Até conhecer Antoine (Vincent Lacoste), um repetente cheio de motivação, que está tentando passar pela terceira vez e, justamente por isso, vive cem por cento para os estudos.
No Brasil, o candidato ao curso superior se inscreve no ENEM, e já no ato da inscrição sinaliza em qual faculdade pretende estudar. A partir de sua escolha, a pontuação pesará mais no conjunto de disciplinas que mais tem a ver com a opção elegida pelo candidato. Na França, onde Benjamin e Antoine moram, o sistema é diferente: lá, no primeiro ano, todos os estudantes da faculdade cursam as mesmas matérias em comum no curso, e, ao final do segundo período, prestam um grande exame em duas etapas, nos quais devem obter nota suficiente para eleger o curso de sua preferência, ou, do contrário, terão que fazer tudo de novo – como no caso de nossos protagonistas. As melhores notas ficam com as primeiras vagas, e a eleição é feita verbalmente, na frente de todos, estilo ‘Jogos Vorazes’.
Apesar das diferenças entre Brasil e França, o sufoco, a angústia, a adrenalina e a pressão nos estudos são as mesmas: para entrar no curso de Medicina, é preciso se destacar e estudar muito mais do que o necessário. Neste quesito, ‘Primeiro Ano’ apresenta um quadro bastante real do que os estudantes passam no período mais crítico de suas jovens vidas: a da escolha de carreira. Os dois protagonistas sincronizam a química de uma verdadeira amizade, originada por conta da necessidade do objetivo em comum, atravessada por crises de ciúme e inveja, mas, acima de tudo, solidificada pela cumplicidade de quem reconhece no outro suas próprias ambições e fraquezas.
William Lebghil retrata com fidelidade o estudante indeciso, que desconta na comida sua ansiedade, mas os aplausos vão para Vincent Lacoste, muito conhecido pelos seus papéis em comédias, que neste ‘Primeiro Ano’ apresenta um jovem nervoso, em crise constante, que sofre um surto por conta de tanta pressão que infringe a si mesmo. O ator, inclusive, já veio ao Rio de Janeiro no Festival Varilux de Cinema, e arrancou suspiros. Graças a um roteiro leve e próximo da realidade, os dois rapazes retratam com fidelidade o mundo competitivo, estressante e gratificante dos vestibulares.
Um filme imperdível para professores e alunos do Ensino Médio.

Trailer: https://youtu.be/vlj7fe2oLPs