Parece até piada, mas é verdade: o Leandro Hassum está estrelando seu primeiro drama nos cinemas.
‘Chorar de Rir’, apesar do título, NÃO É um filme de comédia. O longa é, na verdade, um drama com o pretexto da comédia como pano de fundo. Pode não parecer que isso faça alguma diferença, mas se você ver o cartaz do filme com esse elenco de peso, possivelmente imaginará que o longa é mais uma dessas comédias que arrastam milhões de brasileiros aos cinemas – porém, ‘Chorar de Rir‘, de comédia, tem pouco, não cumprindo seu próprio título.
Leandro Hassum é Nilo Perequê, o maior comediante do país. Após ser desprezado pelo seu antigo amor de infância por ser “apenas” um ator de comédia, mesmo tendo ganhado o maior prêmio por isso –, Nilo larga tudo para apostar naquilo que realmente sempre quis fazer como ator: o drama. Sim, ele decide encenar ‘Hamlet’, de William Shakespeare. Por isso acaba ouvindo críticas e repreensões de seu empresário (Otávio Müller), de sua irmã (Natália Lage) e de sua família, e, ao persistir em sua decisão, Nilo fracassa.
O longa se resume a piadas caricatas, conduzidas inteiramente pelo seu protagonista, com pouca aproveitamento do elenco sensacional reunido neste trabalho. Em determinado momento, Nilo Perequê diz algo como “eu vou fazer drama e vou fazer teatro; vou interpretar Shakespeare, e se ninguém quiser produzir, dirigir ou empresariar minha peça, eu mesmo a financio, porque é pra isso que eu fiz dinheiro.” Nesta fala está contido não só o recado de Hassum ao grande público, mas também o esqueleto do filme em si: com uma ficha técnica sem nenhum profissional de renome, podemos entender que o longa foi de fato um projeto pessoal de Hassum que ele finalmente tirou da gaveta para colocar um ponto final na sua vida como comediante, o que pode ser uma boa guinada na carreira do ator, abrindo-lhe novas oportunidades.
Em uma outra leitura, o filme presta uma bela homenagem à comédia. A reverência está na inserção dos grandes elementos do gênero, como a cena em que Hassum aparece vestido como um dos Blues Brothers; na que dança ‘Singin’ in the Rain’; no personagem que joga torta na cara do outro; nos stand up comedies; nos chutes no traseiro tal como faziam os Trapalhões, etc. Sem falar, claro, nas participações especiais de Rafael Portugal, Ingrid Guimarães, Fábio Porchat, Magal, Caito Mainer, etc, juntando muitas gerações de comediantes que tanto trazem alegria ao público brasileiro.
Numa segunda camada, ‘Chorar de Rir’ é uma ode à profissão do ator. Durante a jornada de Nilo Perequê, o público acompanha todos os percursos que um estudante de teatro faz para correr atrás de seus sonhos, desde interpretar um arbusto a até mesmo contar com a ajudinha de um guru mágico que dá aquela alavancada básica na carreira.
Fica, assim, um gosto de despedida na boca. Estaria Hassum dizendo adeus às comédias para se dedicar com mais afinco aos filmes dramáticos, como tantos outros grandes atores da comédia fizeram no passado? Isso será cenas dos próximos capítulos. Até lá, ‘Chorar de Rir’ é uma proposta interessante de filme, que não acompanha nem o próprio título, nem a sinopse divulgada, mas ao menos traz uma proposta diferente de tudo que anda sendo apresentado nos cinemas.