Na Polônia de 1949, um grupo recruta jovens com aspirações artísticas para montar uma trupe de dança folclórica polonesa, no intuito de fazer com que se apresentem por diversas cidades. Logo de cara conhecemos Zula (Joanna Kulig), uma moça que se submete aos testes de avaliação da companhia, mas que claramente está ali não porque sonha em ser artista, mas sim porque acredita que este internato é uma válvula de escape para a cruel realidade em que vive, em seu país e em sua família.

Fica evidente ao espectador que Zula não é exatamente uma jovem inocente; ao contrário, é bastante esperta, e não mede esforços para chegar onde quer. Para tal, vale fingir-se de amiga a uma garota que acabou de conhecer, apenas para roubar a música que esta escolheu para se apresentar. Vale, também, envolver-se com o maestro e pianista do grupo, Wiktor (Tomasz Kot), com quem se relaciona amorosamente.
Como pano de fundo, a Guerra Fria, que assolou a Europa entre o fim da II Guerra Mundial (1945) e a Queda do Muro de Berlim (1991), destruindo cidades e empobrecendo a população. Enquanto os Estados Unidos e a União Soviética brigavam por questões políticas, a história do filme acompanha o relacionamento amoroso de Zula e Wiktor, trazendo a perspectiva histórica não tanto para os conflitos bélicos, mas sim no quanto esses episódios impactam na vida do cidadão comum – e, mais precisamente, o quanto afeta drasticamente a criação e a promoção das artes.
Vocês lembram de ‘La La Land‘, o musical queridinho de uns Oscars atrás que contava a história de uma menina ingênua, que sabia cantar e dançar, que vai para Hollywood atrás de seu sonho e, uma vez na Cidade dos Anjos, conhece um pianista, que se torna o amor de sua vida, mas que não terminam juntos no final? Agora imaginem se ‘La La Land‘ tivesse se passado no meio da guerra, sem todas aquelas cores e sorrisos, e muito mais próximo da realidade? Este é ‘Guerra Fria‘.

A escolha por mudar a perspectiva da narrativa da história, não centrando-a nos conflitos mas sim no indivíduo, é a chave essencial da direção firme de Pawel Pawlikowski (‘Ida’, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015). A câmera de Pawel dança como os pés de uma bailarina, trazendo o espectador para dentro do estonteante projeto de fotografia de Lukasz Zal, que consegue trazer beleza e suavidade no cenário de guerra. A direção de fotografia de Lukasz é realmente uma aula impressionante, de encher os olhos, e merece a indicação ao Oscar desse ano. Estamos na torcida!